Nos últimos anos a saúde mental tornou-se um dos tópicos de maior importância no que diz respeito à saúde e bem-estar. A propósito do Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, que se assinala a 10 de setembro, ajudamos aqui a traçar um caminho que nem sempre é claro: embora seja frequente ouvirmos falar sobre a necessidade de “pedir ajuda”, pode ser difícil compreender como fazê-lo ou por onde começar.
Em primeiro lugar, é preciso reconhecer os sinais de que algo não está bem consigo – perturbações constantes de humor, alterações nos padrões de sono, insónias, cansaço persistente, níveis elevados de stresse, vontade de se isolar, perda de interesse por atividades que antes o aliciavam, perda ou aumento de apetite, entre outros. Mesmo que não manifeste sintomas tão extremos, a partir do momento em que sente que alguma coisa não está bem dentro de si, mesmo que continue a “operar” de forma funcional e continue a cumprir as suas tarefas, é motivo mais do que suficiente para pedir ajuda.
Que tipos de ajuda pedir?
- Familiar/ amigos – caso se sinta à vontade para fazê-lo e sinta que tem em seu redor pessoas capazes de o compreender e de o ajudar a esclarecer situações que o incomodam e a encontrar forma de lidar com elas, conversar com o seu par, com um familiar ou com amigos pode ser o ponto de partida para vencer um período difícil. Esta base de diálogo pode ser suficiente para superar dificuldades, mas, em muitos casos, pode não ser suficiente, ajudando-o, ainda assim, a perceber se é conveniente procurar ajuda especializada.
- Ajuda profissional: médico de família/ psicólogo/ psiquiatra/ neurologista – Nem sempre as pessoas que nos amam estão aptas a ajudar-nos a superar os processos difíceis que a nossa mente enfrenta. Nem todas as pessoas dispõem de ajuda emocional à qual podem recorrer e, em muitas situações, é mesmo necessário ter apoio profissional – apenas desabafar sobre os problemas e ouvir aquilo que os amigos e familiares têm para nos dizer não basta. Dirija-se ao seu Centro de Saúde e marque uma consulta com o seu médico de família ou com um médico de clínica geral. Ele pode prescrever medicação, caso haja essa necessidade, ou encaminhá-lo para acompanhamento especializado – para um psicólogo e/ ou psiquiatra ou para um neurologista, conforme a situação. Em muitos casos mais ligeiros, o tratamento prescrito pelo médico de família pode ser suficiente para resolver casos de stresse, ansiedade, insónia, entre outros.
- Linhas telefónicas de apoio
Existem linhas telefónicas de apoio que ajudam as pessoas que não têm com quem falar, que têm vergonha de o fazer, ou que procuram ajuda profissional e não sabem por onde começar ou não têm recursos para marcar uma consulta. Ajudam qualquer pessoa, oferecendo ajuda por psicólogos clínicos e permitindo um espaço de maior privacidade.
- Linha de Aconselhamento Psicológico do Serviço Nacional de Saúde – funciona 24 horas por dia. Marque 808242424 (o número do SNS) e selecione a opção 4 (aconselhamento psicológico).
- SOS Voz Amiga – ajuda em casos de solidão, angústia, desespero e ansiedade. Funciona das 15:30 às 00:30. Marque 213 544 545 / 912 802 669 / 963 524 660
- Conversa Amiga – funciona das 15:00 às 22:00. Marque 808 237 327 / 210 027 159
- Vozes Amigas de Esperança de Portugal – funciona das 16:00 às 22:00. Marque 222 030 707
- Telefone da Amizade - 228 323 535
- Voz de Apoio - 225 506 070
Como fazer?
- Pode começar por ir a uma consulta com o seu médico de família, que já conhece o seu historial clínico e pode aconselhar-lhe profissionais especializados, direcionando-o para consultas com um psicólogo, com um psiquiatra ou com um neurologista, conforme a sua situação. Pode, também, optar por marcar diretamente uma consulta com um destes especialistas.
Quais são as diferenças entre eles?
- O psicólogo clínico ajuda a trabalhar os processos mentais e comportamentais. Não receita medicamentos e o tratamento efetuado requer tempo – o paciente irá aprender, com o terapeuta, a reconhecer os seus padrões de pensamento e a origem daquilo que o incomoda, aprendendo a desenvolver mecanismos que o ajudem, a longo prazo, a lidar com as situações e com os seus processos mentais, evitando crises e aprendendo a ultrapassá-las.
- O psiquiatra ajuda a tratar doenças do foro psiquiátrico, receita medicação, e o tratamento é feito com base na toma da mesma. As consultas com o psiquiatra são regulares, mas muito mais espaçadas do que as consultas com o psicólogo, pois visam ajustar a medicação e verificar se esta está a atingir os objetivos desejados. Situações como depressão, ansiedade incapacitante, psicoses e dependências requerem o tratamento psiquiátrico, pois é necessário recorrer aos medicamentos para reequilibrar os processos cerebrais.
Muitos casos são tratados através do recurso conjunto ao psicólogo e ao psiquiatra, complementando o tratamento feito através de medicação com a terapia, que ajuda a solidificar aptidões para evitar crises a longo prazo.
- O neurologista é necessário em situações que estão relacionadas com processos degenerativos do cérebro, nomeadamente a demência, doença de Alzheimer, Parkinson, com o AVC e doenças tumorais.
Acima de tudo, por mais negro que lhe pareça o lugar mental onde está, procure fazer um esforço para partilhar aquilo que sente – quer o faça através de uma linha telefónica, que pode ajudá-lo a obter a ajuda de que precisa, através de uma consulta no Centro de Saúde ou com o seu Médico de Família, que pode direcioná-lo para um especialista ou nem que seja apenas através de um desabafo com um amigo, que possa dar-lhe a mão e ajudá-lo a encontrar a ajuda certa. Tal como acontece com todas as outras situações relacionadas com a saúde, pode ser necessário recorrer a mais do que um especialista até encontrar aquele que o ajudará a resolver a sua situação. Não desista nem desanime se não sentir empatia com o primeiro profissional a quem recorrer, procure outro especialista.
Através da linha do SNS é possível pedir apoio psicológico gratuito, pelo que, mesmo que não tenha condições financeiras para pagar consultas de psicologia ou psiquiatria, não deixará de ter o acompanhamento de que precisa.