Certamente já lhe aconteceu ser acometido pela vontade súbita de ingerir um determinado alimento. Sabe por que motivo isto acontece? O nosso organismo comunica connosco de forma clara, basta saber reconhecer os sinais que ele nos envia!
A alimentação é essencial à vida: é dos alimentos que retiramos os nutrientes dos quais o nosso organismo necessita para funcionar. Fazer uma alimentação equilibrada, rica em nutrientes que o corpo não armazena e dos quais precisa em maiores quantidades, como as vitaminas e os sais minerais, é indispensável para que todas as nossas funções vitais funcionem de forma correta. Quando sentimos o desejo inesperado de ingerir um determinado tipo de alimento, estamos, em muitos casos, a receber sinais que o nosso organismo nos envia e que nos indicam que estamos em carência de algum nutriente ou que alguma função física não está a operar devidamente.
Se passamos várias horas sem comer, os níveis de nutrientes descem, porque o corpo liberta-se deles através das fezes e da transpiração, e a glicose, a insulina e a leptina baixam na corrente sanguínea, deixando-nos sem energia. O corpo produz então a hormona que expressa fome, chamada grelina, a qual surge como uma resposta do organismo para que as suas necessidades sejam satisfeitas. O excesso de atividade física e uma dieta pobre em vitaminas e sais minerais também levam a uma carência nutricional, a qual resulta num maior apetite por determinado tipo de alimentos, que surge como um sinal de alerta do organismo.
É muito importante ter em conta que a composição física da pessoa afeta o seu apetite: quanto maiores forem os músculos da pessoa, maior necessidade tem de repor nutrientes. É por isso que, geralmente, um homem tem necessidade de comer mais do que uma mulher, e as pessoas de constituição maior tendem a precisar de mais alimento que uma pessoa de compleição mais franzina.
O ciclo menstrual da mulher também influencia o seu apetite por determinados alimentos, o que se deve à oscilação hormonal associada a este processo. Quando a mulher está no período de ovulação, é comum que sinta mais apetite, pois o corpo precisa de mais energia e de repor mais nutrientes. Uma vez que precisa de níveis mais elevados de Ferro, é provável que sinta mais vontade de ingerir alimentos ricos neste nutriente, como é o caso das carnes vermelhas e dos vegetais de folhas verde-escuras. Na gravidez há também maior necessidade deste nutriente, sendo maior o apetite por este tipo de alimentos. O chocolate é um dos alimentos mais comummente associados ao apetite na fase pré-menstrual, o que se deve ao facto de haver maior oscilação hormonal nessa etapa, com alterações nos níveis de serotonina, estrogénio, progesterona, e carência de vitaminas do complexo B, Magnésio e triptofano. Uma vez que o chocolate é uma fonte elevada destes nutrientes, é comum que haja maior apetência do organismo por este alimento, sendo também frequente o desejo de consumir doces e alimentos ricos em carbohidratos. O facto de ser rico em Magnésio faz também com que o chocolate ajude a atenuar as dores de cabeça, as cólicas e o inchaço que muitas vezes surgem associadas a este período, para além de ajudar a equilibrar o humor. O corpo procura, de forma instintiva, os alimentos que melhor podem satisfazer as necessidades que experimenta.
A vontade de comer doces acontece com frequência, tanto em mulheres como em homens, e está ligada muitas vezes a alterações nos níveis de serotonina, a hormona do bem-estar. Tendemos, por isso, a querer comer doces e alimentos ricos em hidratos de carbono, como massas e pão, quando nos sentimos mais em baixo, desanimados ou tristes. Ingerir diariamente alimentos ricos em triptofano, como é o caso das bananas, cereais integrais e grão de bico, ajuda a equilibrar os níveis de serotonina, já que o triptofano estimula a produção desta hormona. Desta forma, uma dieta na qual estejam solidamente presentes alimentos que forneçam esse nutriente ajuda a manter o equilíbrio hormonal, o bom humor e a saciedade. A vontade de comer doces também pode surgir devido a uma carência em cromo, que ajuda a regular o organismo.
É especialmente importante ter em conta esta necessidade de equilíbrio nutricional quando se leva a cabo uma dieta restritiva, a qual pode despoletar maiores carências no nosso corpo e ter como consequência um maior apetite por alimentos “proibidos”, que são prejudiciais ao organismo.
Embora seja mais frequente a vontade de comer doces, há também pessoas e fases da vida em que o desejo por alimentos salgados é mais acentuado. Os estímulos visuais e olfativos associados a certos pratos podem desencadear respostas emocionais aos mesmos – ao vermos um prato apetitoso e “decadente” é mais provável que tenhamos vontade de ingeri-lo, algo que é amplamente explorado pelos departamentos de marketing ligados ao negócio da restauração. Mas, para além dessa resposta imediata do organismo, o desejo de ingerir alimentos salgados pode também denunciar a carência de determinados nutrientes, especialmente sais minerais, e alertar para a existência de problemas de saúde. Quando o nosso corpo pede alimentos salgados podemos estar a ter uma carência de sódio, mineral presente no sal, a qual surge devido à fadiga das glândulas adrenais, que regulam o ciclo do sono e a imunidade e que estão também associadas ao stresse. Assim, se estivermos sujeitos a pressão, e se nos sentirmos mais cansados, há maior probabilidade de o nosso corpo querer ingerir alimentos ricos em sal e em hidratos de carbono, como forma de ter mais energia. É importante saber que o consumo de sal pode despoletar dependência, causando um efeito neuroendócrino porque o sal estimula o sistema de recompensa do cérebro.
A vontade de comer alimentos amargos, como chocolate preto, café e vegetais como a beringela e o agrião pode surgir associada à falta de Magnésio, e a vontade de comer queijo e produtos lácteos pode denunciar falta de ácidos graxos, como Omega 3, essenciais para o desenvolvimento do cérebro e o bom funcionamento do sistema nervoso.
Embora seja natural e saudável sentir desejos casuais por certo tipo de alimentos, lembre-se que fazer uma dieta equilibrada e variada é essencial para assegurar que o seu organismo recebe diariamente os nutrientes de que necessita. Quanto mais diversificada e sólida for a sua dieta, ingerindo as quantidades nutricionais de que o seu corpo precisa, mais saciado ele estará, não manifestando carências.