A palavra burnout (do inglês completamente queimado, em tradução literal) passou a fazer parte do nosso vocabulário pelos piores motivos. Estima-se que mais de metade da população sofre ou já sofreu da Síndrome de Burnout, que é já considerada uma doença do trabalho pela Organização Mundial de Saúde. Mas embora a vida profissional a potencie, não é só o trabalho que pode conduzir a um burnout. Saiba como pode proteger-se, antes que seja tarde de mais.
Desde o dia 1 de janeiro de 2022 que a Síndrome de Burnout é considerada pela OMS (Organização Mundial de Saúde) como uma doença ocupacional ou doença do trabalho, uma vez que é geralmente desencadeada pelo stresse intenso associado à pressão sentida na realização das atividades profissionais. Muitas vezes conhecida como “esgotamento”, a Síndrome de Burnout carateriza-se pela exaustão crónica, em que a pessoa se encontra num estado de stresse e fadiga constantes, com dores de cabeça frequentes e possibilidade de sentir dores musculares. O desinteresse pela atividade profissional, associado à incapacidade de desempenhar as tarefas que lhe são atribuídas, são também sintomas que alertam para esta condição que afeta a saúde e compromete o bem-estar da pessoa não só em contexto profissional como também na sua vida pessoal e familiar.
O termo burnout foi associado a condições de saúde em 1974 pelo psicanalista alemão Herbert Freudenberger e era usado para descrever o estado de exaustão extrema em que se encontravam os profissionais de saúde, sujeitos a situações de desgaste mental por vezes muito acentuado. Com a crescente pressão exercida nas mais variadas profissões e a necessidade de atingir objetivos cada vez mais elevados, o burnout passou a ser reconhecido como síndrome pela Organização Mundial de Saúde, em 2019, abrangendo diversas áreas profissionais. Os números não pararam de aumentar, tendo disparado consideravelmente devido à pandemia, de tal modo que a partir deste ano passou a ser considerada como uma doença do trabalho. As mulheres tendem a sofrer maiores riscos de burnout porque, para além da pressão que podem sofrer em relação às exigências profissionais, têm a seu cargo, muitas vezes, uma boa parte do cuidado com os filhos e da gestão do lar e das tarefas domésticas.
Inicialmente silenciosa, a Síndrome de Burnout manifesta-se de forma gradual, ainda que os sintomas e o ritmo com que ganha expressão varie de acordo com a personalidade da pessoa, a situação em que se encontra e o trabalho que desempenha.
De um modo geral, começa por manifestar-se através da perda de motivação relacionada com o trabalho, da maior dificuldade de concentração e na concretização das tarefas habituais, de um cansaço persistente e da tendência para ter perturbações de sono. As dores de cabeça tornam-se mais frequentes, bem como a fadiga e o stresse, havendo a possibilidade de ter perda de apetite, dores musculares, perturbações gastrointestinais e irritabilidade. Pode haver situações em que as preocupações decorrentes da atividade profissional ou de fatores pessoais causem estes sintomas durante alguns dias, o que não é alarmante, mas quando eles persistem para além de, no máximo, uma semana, é preciso procurar ajuda.
A sensação de fracasso e a dificuldade em cumprir com tudo aquilo que é pedido levam a pessoa a adiar tarefas, sentindo-se muitas vezes sobrecarregada, incompreendida e só.
Embora haja maior incidência de Síndrome de Burnout em profissões que, pelas caraterísticas que lhe são inerentes, expõem os profissionais a situações de pressão constante, as condições de trabalho durante os últimos dois anos, em que muitas pessoas tiveram de passar a trabalhar em casa e acumular as funções profissionais com o cuidado permanente com os filhos, para além da instabilidade causada pela incerteza e pela alteração drástica nas rotinas quotidianas, fizeram com que houvesse uma proliferação de casos, afetando sobretudo as mulheres e pessoas que desempenham funções de maior responsabilidade.
Para além do Burnout associado ao trabalho há também a manifestação crescente de casos em que esta condição se relaciona com a educação e o cuidado com os filhos, afetando não só as mulheres, mas também os homens. Alguns dos sintomas manifestados nesses casos relacionam-se com a sensação de frustração e de incapacidade de desempenhar corretamente o papel de pais, o que por sua vez conduz à irritabilidade, à apatia e até ao distanciamento emocional dos filhos. É fundamental, nesses casos, recorrer a ajuda terapêutica para que sejam encontradas soluções que permitam encontrar novamente o equilíbrio.
Como evitar a Síndrome de Burnout?
- Esteja atento ao seu corpo e à sua mente: se notar alterações nos seus padrões habituais de sono, se se sentir mais cansado do que é habitual, com maior stresse e dificuldade em cumprir as suas tarefas, procure ajuda de um profissional de saúde que possa aconselhá-lo e dar-lhe apoio para ultrapassar uma fase mais exigente.
- Mantenha hábitos pessoais saudáveis: por maiores responsabilidades que recaiam sobre os seus ombros, saiba parar. Reserve tempo, diariamente, para cuidar de si e desanuviar a mente. Defina prioridades e não se culpabilize se não conseguir fazer tudo num só dia. Peça ajuda, não faça tudo sozinho.
- Cuide do seu sono: se tiver problemas em adormecer ou insónias fale com o seu médico ou farmacêutico. As perturbações de sono persistentes tendem a agravar-se e a trazer consigo outras complicações.
- Faça uma alimentação mais saudável: em períodos de maior exigência diária é necessário ter um cuidado redobrado com a alimentação. Aumente o consumo de frutos e vegetais, assegure-se que ingere alimentos ricos em Omega 3 (como salmão, sardinha, nozes, amêndoas e sementes de linhaça, por exemplo), Magnésio (como banana, abacate, sementes, aveia, entre outros) e vitaminas. Não abuse da cafeína e evite o consumo de álcool e nicotina.
- Pratique uma atividade física: caminhar diariamente ao fim do dia ajuda-o a descontrair a mente e faz com que o seu corpo liberte substâncias que o ajudam a enfrentar melhor os desafios. Vá a pé do trabalho para casa numa parte do percurso, estacione o carro mais longe ou saia dos transportes públicos algumas paragens antes. Saia do trabalho a horas, de forma a conseguir ter tempo para si.
- Obrigue-se a ter tempos livres: dedique-se a um passatempo novo, que não esteja em nada relacionado com o seu trabalho e, nem que seja uma a duas vezes por semana, inclua essa atividade no seu dia-a-dia. Praticar atividades de relaxamento da mente, como a Meditação ou Yoga, é também bastante benéfico para aprender a focar-se de forma mais consciente no momento presente e aprender a ouvir as necessidades do seu corpo. Atividades em que tem de usar a criatividade, como a expressão